segunda-feira, julho 13, 2020

segunda-feira, maio 04, 2020

Babá

Dias mais longos e mais vazios em que a saudade da voz, da argúcia, da graça e do afeto mais nos apertam o coração, mais nos vêm à memória. Aí então percebemos que mesmo que tenhamos dito vezes sem conta o quanto os amávamos, infinitas vezes terão sido ainda vezes insuficientes. Sempre me inquieta não conseguir perceber, logo controlar o que me empurra para aqui: cheiros, música, sabores? As soluções que encontro são procurar incessantemente, músicas e textos que me permitam mergulhar fundo em mim em busca dessas amarras que me formam e sustentam como pessoa. Truly miss her.

quarta-feira, abril 01, 2020

Sem título - é triste e emaranhado

Obrigo-me a não ser pessimista, obrigo-me a não ser racista, obrigo-me a não ser excessivamente conspirativa, em suma, obrigo-me a não ser excessivamente crítica. Todos os dias desde o início desta tragédia que me deito com um nó que percorre e puxa todo o meu corpo. Ao longo da noite e na maioria dos casos, alguém que olha por mim o vai docemente desfazendo, alargando, volta a volta. Assim e quando de manhã acordo, encho o peito cheio de ar e já não submetido a qualquer tensão. Levanto-me e em particular em dias de sol e perante o cantar matinal dos pássaros, penso que quando for ouvir/ler as notícias a situação terá milagrosamente, melhorado de forma espetacular. Ou que nada disto foi verdade, ou que apareceu uma cura extraordinária, ou que afinal a vacina já está pronta a ser distribuída por todo o mundo, que ainda vai a tempo de salvar tantos maiores abandonados e sós.....Mas não tem sido assim..... dia após dia.

Depois assistimos a mais um dia de números tenebrosos, de estatísticas dramáticas, de tendências avassaladoras e suicidas, de pessoas que dizem algo e o seu exato contrário no espaço de uma semana. Socorro, como aconteceu tudo isto num mundo que parecia mais ou menos certo?!

Ok, ok, dirão. Há tantos gestos e atitudes tão bonitas, tão solidárias, no fundo, tão humanas. Mas não chega. O mundo dos poderosos é ainda hipócrita, tão fraco a reagir, tão inconsequente.

Congratulo-me por estar em Portugal que aqui deste canto da Europa, olhando numa e noutra direção, sempre escolhe ser Europeu, sempre escolhe ser humano e relembrar alturas em que também nós precisámos do apoio de outros e que estes nos valeram. Portugal que ainda que com falhas sérias que poderia apontar, mas não quero agora fazê-lo, promove as famílias/amizades/amor, que atuou tão atempadamente quanto conseguiu, que tem um sistema nacional de saúde e que se deve orgulhar dele a cada dia que passa. Obrigada. Peço para que todos sem exceção, consigamos aprender a viver de outra forma quando for dia de novo e consigamos fio a fio, desfazer este nó imenso que por ora nos sufoca de tristeza e impotência. Vou-me deitar.....

Lisboa, 01 de abril de 2020

sábado, janeiro 11, 2020

Sousinha

"O nosso menino de oiro", um menino Jesus de 4 patas que nos acompanhou pelo Natal de 2019 e passagem do ano. Infelizmente partiu a 07 de janeiro de 2020 por razões que sempre ficarão por explicar. Esteve pouco tempo entre nós mas marcou-nos a todos de forma profunda: o Sousa (Baby Yoda). E porquê? Não saberia explicar, pela ternura, pela capacidade de amar e de procurar ser amado. Só isso mas para nós foi muito e sempre lhe deveremos isso.


domingo, janeiro 05, 2020

........
E a estrela do céu parou em cima
De uma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha a cor que tem a cinza
Longe do verde azul da natureza.

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água.

Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais triste e mais sozinha
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado.

Nesse lugar pensei: “Quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto.
Sophia Livro Sexto, 1962.


domingo, novembro 24, 2019

One Medicine/Zoobiquity

“Temos que estreitar relações, ”melhorar a partilha de dados”,” intensificar as ações conjuntas”, “trabalhar em parceria”, blá, blá, blá. Ao fim de algumas décadas creio que este discurso, ainda que carregado de boas intenções, não nos conduzirá certamente a bom porto. Que me desculpem os envolvidos, mas para mim, menos envolvida e mais entusiasta, isto parece-me evidente. Chegou a altura de passar das palavras aos atos e não meros atos falhados. Outros países passaram por isto e desenganem-se colegas, os nossos parceiros da saúde humana têm de um modo geral menos sensibilidade para estes temas. Por questões inerentes à sua profissão e derivadas da atual organização da sociedade, acabam apenas por cuidar de uma só espécie, na maioria dos casos inseridos num habitat humano, prestando pouca atenção a outras interações, ambientais ou interespécies. Para nós médicos veterinários a One Health está verdadeiramente inscrita no nosso ADN, sabemos isto desde muito cedo, apenas precisamos de a operacionalizar para que a colaboração seja verdadeiramente eficiente. 
A minha proposta, de forma a não me alargar em demasia, é simples e concisa. A saber:
1.A Direção Geral de Saúde deve incorporar na sua estrutura principal um médico veterinário. Eventualmente a aposta certa será criar ou idealmente integrar um departamento de zoonoses e doenças transmitidas por vetores dirigido por um médico-veterinário. O Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas, CEVDI do Instituto Ricardo Jorge faz este trabalho e muito bem há cerca de 30 anos. A questão é mais uma vez mais não estar diretamente envolvido na tomada direta de decisões pela Direção Geral de Saúde em termos de saúde pública.
Esta ideia não é um devaneio, foi o caminho seguido pelo Center for Disease Control and Prevention - CDC quando em 1999 Tracey McNamara, médica veterinária e patologista do Zoo de Bronx isolou pela primeira vez o West Nile Virus nos EUA. Mais tarde este departamento evoluiu para uma estrutura de maior dimensão e importância chamado National Center for Emergency and Zoonotic Infectious Diseases
2. Têm que ser criados e implementados com a máxima urgência planos de segurança comuns entre saúde humana e animal:
Epidemias em caso de catástrofe;
Epidemias por zoonoses – criar uma plataforma online onde deve ser introduzida informação numa perspetiva interespécies (animais mortos, monitorização de pássaros com relevância na transmissão de zoonoses);
Anti Microbial Resistance  - AMR/Resistência aos Anti Microbianos – RAM.
Urge que atuemos já que, os vírus, bactérias e demais agentes etiológicos não têm prurido em mudar de hospedeiro ou via de entrada. É tudo uma questão de sobrevivência. 

Embora esta área das zoonoses e AMR/RAM exija claramente resposta eficaz e urgente, a One Health/One Medicine está longe de se encerrar por aqui: existem várias áreas em que as sinergias são extremamente úteis para ambas as saúdes: oncologia, comportamento, osteoartrite e outras. Atualmente muitos grupos de trabalho desenvolvem estudos paralelos na mesma linha de investigação. Recomendo a todos a leitura do Livro Zoobiquity de Barbara Natterson-Horowitz e Kathryn Bowers. Muito inspirador, sério e refrescante.

sábado, maio 18, 2019

50 no mês 05 - A maior festa do mundo....... (Para que perdure no tempo e na história)




Antes de mais gostaria de agradecer a todos e a cada um, a vossa presença aqui hoje para celebrar aprés la lettre, o meu ½ século de vida. Como na verdade já tenho 50 anos há alguns dias, tudo agora se torna mais fácil e sinto-me absolutamente segura neste novo patamar. 

Não irei fazê-lo individualmente na medida em que todos são tão importantes, em contextos e de formas tão distintas. Assim apenas gostaria de reiterar o gosto imenso que sinto em tê-los junto de mim e que isso assim se mantenha pelo tempo dentro.

Gostaria de partilhar convosco esta história: há dias e perante uma pergunta da minha Mãe sobre qual a sensação/sentimento de ter 50 anos, dizia-lhe que esta era uma sensação nova e que se a pudesse converter em imagem, seria a de alguém a quem é entregue como missão que escale uma montanha, alta. O caminho é longo, ora deslumbrante, ora menos bonito, ora fácil, ora mais acidentado, mas sinto na verdade que sempre fui caminhando o melhor que pude. Caminhei quase, quase, sempre com vento a meu favor. Ao fim de anos de escalada e sempre bem acompanhada, sinto agora que cheguei ao topo. Não tive a companhia de todos quanto inicialmente sonhei e que sempre achei que estariam hoje aqui comigo, mas sinto-os próximo de mim e com eles e com as fortes memórias que nos unem, também caminhei (e caminho).

Esta montanha tem um cume/planalto largo, verde e fresco, de onde agora espreito para todos os lados, uma vista panorâmica, fabulosa, aérea, madura, sustentada e face à qual na maioria dos dias, quase sempre sorrio. Sei que hei-de um dia começar a descer, mas por ora não tenho nem pressa, nem medo. Sei também que continuo a sentir-me muito bem acompanhada, arriscaria até a dizer que talvez até melhor do que quando comecei. Bom e atendendo a que esta festa é o meu presente de anos do Luís e dos miúdos, obrigada. ADOREI.