Obrigo-me a não ser pessimista, obrigo-me a não ser racista, obrigo-me a não ser excessivamente conspirativa, em suma, obrigo-me a não ser excessivamente crítica. Todos os dias desde o início desta tragédia que me deito com um nó que percorre e puxa todo o meu corpo. Ao longo da noite e na maioria dos casos, alguém que olha por mim o vai docemente desfazendo, alargando, volta a volta. Assim e quando de manhã acordo, encho o peito cheio de ar e já não submetido a qualquer tensão. Levanto-me e em particular em dias de sol e perante o cantar matinal dos pássaros, penso que quando for ouvir/ler as notícias a situação terá milagrosamente, melhorado de forma espetacular. Ou que nada disto foi verdade, ou que apareceu uma cura extraordinária, ou que afinal a vacina já está pronta a ser distribuída por todo o mundo, que ainda vai a tempo de salvar tantos maiores abandonados e sós.....Mas não tem sido assim..... dia após dia.
Depois assistimos a mais um dia de números tenebrosos, de estatísticas dramáticas, de tendências avassaladoras e suicidas, de pessoas que dizem algo e o seu exato contrário no espaço de uma semana. Socorro, como aconteceu tudo isto num mundo que parecia mais ou menos certo?!
Ok, ok, dirão. Há tantos gestos e atitudes tão bonitas, tão solidárias, no fundo, tão humanas. Mas não chega. O mundo dos poderosos é ainda hipócrita, tão fraco a reagir, tão inconsequente.
Congratulo-me por estar em Portugal que aqui deste canto da Europa, olhando numa e noutra direção, sempre escolhe ser Europeu, sempre escolhe ser humano e relembrar alturas em que também nós precisámos do apoio de outros e que estes nos valeram. Portugal que ainda que com falhas sérias que poderia apontar, mas não quero agora fazê-lo, promove as famílias/amizades/amor, que atuou tão atempadamente quanto conseguiu, que tem um sistema nacional de saúde e que se deve orgulhar dele a cada dia que passa. Obrigada. Peço para que todos sem exceção, consigamos aprender a viver de outra forma quando for dia de novo e consigamos fio a fio, desfazer este nó imenso que por ora nos sufoca de tristeza e impotência. Vou-me deitar.....
Lisboa, 01 de abril de 2020
Lisboa, 01 de abril de 2020
Sem comentários:
Enviar um comentário