Há 15 anos, quando deixaste de fazer fisícamente parte do meu dia-a-dia jamais imaginei vir a sentir, como sinto, imensamente a tua falta. Não creio que seja pela presença física em si mas sim pela falta de partilha da alegria, das tristezas, das incertezas, dos disparates, tudo......................Não sabia, até te conhecer, que se poderia ter com uma amiga a cumplicidade que se tem com uma irmã ou irmão. Não sabia como se poderia conversar em silêncio com alguém por quem não corre o mesmo sangue, horas a fio, sem trocar nenhuma palavra, e no final a "conversa" ter sido tão compensadora e tão "certa".
Lembro-me que estava no Zimbabwe quanto soube que te tinhas ido embora para longe. Não pude despedir-me como desejaria e talvez também por essa razão me continue a ser tão pesada a tua ausência. Lembro-me também de como foram confusas as emoções na altura. Nunca tinha perdido ninguém próximo até então. Lembro-me numa tarde estar a ouvir a "Bohème" e, sem perceber porquê, ter repentinamente caído na realidade e aperceber-me que talvez não te viesse a ver mais face a face, e em silêncio e juro que foi mesmo sem nenhum ruído exterior, literalmente desabei em lágrimas. A minha avó Babá, com quem partilho essa vital conversa silenciosa, viu-me ao longe e de costas e, sem que como disse tivesse ouvido qualquer ruído, veio a correr abraçar-me e dizer-me para chorar o que fosse preciso para "ficar em paz". Ainda hoje lhe agradeço esse apoio precioso que me permitiu em parte despedir-me de ti. Ao longo destes quinze anos muitas vezes paro para pensar como seria se ainda estivesses por perto, o tanto que teríamos ainda partilhado. Há dois dias, à vinda da tua cidade, para onde quis o destino que fosse trabalhar, re-ouvi a "Bohème " e voltei, mais uma vez, a conversar contigo. Quase nunca oiço a tua resposta. Hoje apeteceu-me escrever-te, quem sabe se me lerás.
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